A Cartucheira do Avô Ramiro

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Um caçador e o o seu cão. Uma manhã fria, de invernia, por terras do Alto Alentejo. De repente, o cão ladra e faz saltar uma lebre. Lesto, o caçador aponta. Dois estampidos secos ecoam na planície.
O cão corre em direção à peça, dá meia-volta e regressa com a lebre presa na boca, que coloca aos pés do dono. Descarregada a espingarda, o caçador retira da cartucheira dois cartuchos para municiar a arma. O cão já arrancou a farejar o ar e o terreno em busca de mais caça…
É assim que me lembro de algumas das histórias de caça contadas pelo meu avô Ramiro. E sempre imaginei como seriam esses dias, de que o avô falava com tanto carinho e gosto, do seu fiel Já Te Disse, da espingarda a tiracolo e da cartucheira traçada no peito, como se de velhos amigos se tratasse.
Cioso dos seus apetrechos de caçador, sempre cuidou deles com esmero e, homem prevenido, mantinha-os longe do nosso alcance e da nossa vista, os netos, não nos desse a tentação de querer tocar e brincar com objetos que exerciam tanto fascínio em dois garotos, com vontade de imitar os passos e gestos do avô Ramiro nos seus dias de caça. Aliás, como por aqui já contei, foi com o avô que dei os meus primeiros tiros.
Depois do seu desaparecimento, em 1997, ficaram as memórias em velhas fotografias, o que restava – assim imagino eu – desse tempo feliz em que disfrutava da sua companhia, do seu carinho e de toda a sabedoria e atenção.
Um belo dia, há bem pouco tempo, a minha mãe fez-me uma grande e inesperada surpresa: colocou nas minhas mãos a velha cartucheira de couro que o seu pai usara durante as mais de três décadas em que caçou.
Podem imaginar a emoção ao receber uma preciosidade tão estimada, que julgava perdida e que a filha guardou religiosamente durante 28 anos para a passar à geração seguinte…
A imagem do avô Ramiro, de quem tenho muitas saudades, segue, pois, mais viva na minha memória, nestes simples objetos, nesta cartucheira que tem um valor sentimental sem medida e que quis partilhar com todos nestas fotografias e nesta simples história.

Pedro Patrício
Mar|25

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